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29/06/2024

Súmula n. 671 do STJ: Não incidência do IPI em casos de furto ou roubo após saída do produto do estabelecimento industrial

     A Súmula n. 671 do Superior Tribunal de Justiça (STJ) estabelece que não incide o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) quando ocorre furto ou roubo do produto industrializado após sua saída do estabelecimento industrial ou equiparado e antes de sua entrega ao adquirente. Essa orientação foi aprovada pela Primeira Seção do STJ em 20 de junho de 2024 e publicada no Diário de Justiça Eletrônico (DJe) em 24 de junho de 2024.

    Essa súmula aborda uma questão relevante no campo tributário, especificando as circunstâncias em que o IPI, um imposto federal incidente sobre produtos industrializados, não deve ser aplicado. O entendimento consolidado pela Primeira Seção do STJ é de grande importância para as indústrias e empresas que lidam com a produção e comercialização de bens industrializados.

    O contexto jurídico da súmula baseia-se na interpretação das normas que regulam o IPI, particularmente no que diz respeito ao momento da incidência do tributo. O IPI é devido no momento em que o produto sai do estabelecimento industrial ou equiparado, conforme dispõe o artigo 46 do Código Tributário Nacional (CTN). 

    No entanto, a súmula n. 671 introduz uma exceção a essa regra, considerando que a ocorrência de furto ou roubo interrompe o processo de circulação econômica do produto, o que justifica a não incidência do imposto.

A justificativa para essa orientação decorre da interpretação de que, em caso de furto ou roubo, o produto não chega ao seu destinatário final, ou seja, o adquirente. 

    Assim, não há a concretização do fato gerador do IPI, que pressupõe a entrega do produto ao comprador. Esse entendimento protege as empresas de arcarem com um ônus tributário sobre produtos que, por razões alheias à sua vontade, não completaram o ciclo econômico previsto para a incidência do imposto.

    Para os contribuintes, essa súmula representa um importante alívio financeiro, evitando a dupla penalização: a perda do produto e a obrigatoriedade de pagar o IPI sobre um bem que não será comercializado. 

    Além disso, a súmula proporciona maior segurança jurídica, ao estabelecer um critério claro e objetivo sobre a não incidência do tributo em casos de furto ou roubo, permitindo que as empresas planejem suas operações com maior previsibilidade.

    É relevante destacar, ainda, que essa orientação do STJ está alinhada com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, que devem nortear a aplicação do direito tributário. A incidência do IPI sobre produtos furtados ou roubados antes da entrega ao adquirente seria desproporcional, pois imporia uma carga tributária sobre um bem que não gerou receita para a empresa.

    Em resumo, a Súmula n. 671 do STJ constitui uma importante diretriz para a aplicação do IPI, assegurando que o tributo não incida em situações de furto ou roubo dos produtos após sua saída do estabelecimento industrial e antes da entrega ao adquirente. Essa orientação promove a justiça tributária, evitando a imposição de um ônus excessivo sobre as empresas e garantindo uma interpretação coerente e equilibrada das normas tributárias.

Análise da Súmula 699 do STJ: Crime de Fornecimento de Bebida Alcoólica a Menores

 A recente súmula, aprovada em 12 de junho de 2024 pela Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e publicada no Diário da Justiça Eletrônico em 17 de junho de 2024, trata de uma questão de extrema relevância no âmbito da proteção dos direitos de crianças e adolescentes: a criminalização do fornecimento de bebida alcoólica a menores de 18 anos. 


Súmula 699, do STJ:

O fornecimento de bebida alcóolica a criança ou adolescente, após o advento da Lei n. 13.106, de 17 de março de 2015, configura o crime previsto no art. 243 do ECA. 

    Essa súmula consolida e uniformiza a interpretação da legislação vigente, especialmente após as alterações introduzidas pela Lei nº 13.106 de 17 de março de 2015, no artigo 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

    A promulgação da Lei nº 13.106/2015 representou um marco significativo no combate à exposição de crianças e adolescentes a substâncias prejudiciais. Antes dessa lei, o fornecimento de bebidas alcoólicas a menores era tratado como uma infração penal, mas com uma abordagem e penalidades menos rigorosas. 

    A nova legislação introduziu uma tipificação mais severa e específica, refletindo a crescente preocupação da sociedade e do legislador com a proteção do desenvolvimento físico, mental e emocional dos menores.

    O artigo 243 do ECA, em sua redação atual, estabelece que "vender, fornecer, ministrar ou entregar, ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica" constitui crime. 

    A pena prevista é de detenção de dois a quatro anos e multa, se o fato não constituir crime mais grave. A inclusão do termo "ainda que gratuitamente" deixa claro que a intenção legislativa é criminalizar qualquer forma de entrega de bebidas alcoólicas a menores, independentemente de haver ou não lucro envolvido.

    A aprovação da súmula pela Terceira Seção do STJ é de suma importância, pois visa uniformizar a interpretação do dispositivo legal em todo o território nacional. Com essa súmula, fica consolidado o entendimento de que o fornecimento de bebida alcoólica a crianças e adolescentes, após a Lei nº 13.106/2015, configura, sem exceções, o crime previsto no artigo 243 do ECA. 

    Tal uniformização é fundamental para orientar a atuação dos magistrados, promotores de justiça, advogados e demais operadores do direito, garantindo uma aplicação homogênea e coerente da norma em diferentes casos concretos.

    Além de seu papel jurídico, a súmula tem uma função educativa e preventiva. A criminalização rigorosa do fornecimento de bebidas alcoólicas a menores está alinhada com diretrizes de saúde pública e de proteção integral à infância e adolescência, conforme preconiza a Constituição Federal de 1988 e o ECA. 

    Estudos científicos demonstram que o consumo precoce de álcool está associado a diversos problemas de saúde e comportamentais, incluindo aumento da vulnerabilidade a acidentes, violência, dependência química e prejuízos no desenvolvimento escolar e social. 

    Portanto, ao coibir a oferta de bebidas alcoólicas a esse grupo etário, a legislação busca prevenir essas consequências nefastas e promover um ambiente mais seguro e propício ao desenvolvimento saudável dos jovens.

    A interpretação consolidada pela súmula também traz implicações práticas importantes. Por exemplo, estabelecimentos comerciais, como bares, restaurantes e lojas de conveniência, precisam adotar medidas rigorosas para assegurar que não estão vendendo ou fornecendo bebidas alcoólicas a menores. Isso pode incluir a exigência de documentos de identificação e a implementação de programas de treinamento para os funcionários. O descumprimento dessas medidas pode resultar em penalidades criminais severas, além de sanções administrativas e civis.

    Ademais, a súmula reforça a responsabilidade de toda a sociedade na proteção dos direitos de crianças e adolescentes. Pais, educadores, cuidadores e a comunidade em geral devem estar cientes dos riscos associados ao consumo de álcool por menores e da importância de adotar uma postura vigilante e preventiva. 

    Campanhas educativas e políticas públicas são essenciais para disseminar esse conhecimento e promover uma cultura de respeito e proteção aos direitos dos menores.

    Portanto, a súmula aprovada pela Terceira Seção do STJ não apenas reafirma a importância do artigo 243 do ECA, mas também desempenha um papel crucial na construção de uma sociedade mais consciente e comprometida com a proteção integral de crianças e adolescentes. 

    Ao garantir uma interpretação uniforme e rigorosa da norma, a súmula contribui para a efetividade da legislação e para a promoção de um ambiente mais seguro e saudável para o desenvolvimento dos jovens. 

    Essa medida jurídica representa um avanço significativo na defesa dos direitos das crianças e adolescentes, assegurando-lhes uma infância e adolescência livres de influências nocivas e perigosas para seu pleno desenvolvimento.


Respeite os direitos autorais, cite a fonte.


Dr. Luiz Fernando Pereira, advogado e professor.

15/05/2024

PORTADOR DE ALZHEIMER POSSUI DIREITO À ISENÇÃO DO IRPF QUANDO A DOENÇA RESULTAR EM ALIENAÇÃO MENTAL

  

 No cenário jurídico contemporâneo, questões relativas à tributação de pessoas acometidas por doenças graves, especialmente no que concerne à isenção do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), têm sido objeto de análise minuciosa por parte dos operadores do direito.

    Recentemente, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), por meio do julgamento do AgInt no REsp 2.082.632-DF, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, por unanimidade, em 18/3/2024, trouxe à tona uma discussão relevante: o direito à isenção do IRPF para portadores de Alzheimer quando a enfermidade resulta em alienação mental.


Assista um breve vídeo sobre o tema: https://www.instagram.com/p/C7AZWoBrm61/ 


    O caso em apreço envolve uma ação de repetição de indébito tributário, na qual a parte autora buscou a devolução do imposto de renda pago em virtude de ser portadora de Alzheimer. A sentença inicial julgou procedente o pedido, decisão essa que foi mantida pelo Tribunal a quo.

    É crucial ressaltar que a jurisprudência pátria já se debruçou sobre a matéria, notadamente por meio de julgamentos paradigmáticos. Em especial, merece destaque o julgamento do REsp n. 1.814.919/DF, que ratificou o entendimento consolidado de que a isenção do imposto de renda, conforme previsto no art. 6º, inc. XIV, da Lei n. 7.713/1988, alcança apenas os portadores das moléstias ali elencadas que estejam aposentados. 

    Ademais, o REsp n. 1.116.620/BA, também sob a sistemática dos recursos repetitivos, estabeleceu a taxatividade do rol de enfermidades mencionadas no referido dispositivo legal, restringindo a concessão da isenção apenas às situações nele enumeradas.

    O art. 6º, inc. XIV, da Lei n. 7.713/1988, dispõe expressamente sobre a isenção do imposto de renda para os proventos de aposentadoria percebidos pelos portadores de alienação mental. 

    Todavia, é importante frisar que a legislação não faz menção específica ao Alzheimer. Contudo, diante da possibilidade de a doença resultar em alienação mental, este Tribunal Superior já se pronunciou pela viabilidade de os portadores dessa patologia serem contemplados com a isenção do imposto de renda, desde que configurada a condição de alienação mental.

    O precedente mencionado, oriundo do Superior Tribunal de Justiça (STJ), desempenha um papel fundamental na consolidação do entendimento jurídico acerca do direito à isenção do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) para portadores de Alzheimer quando a doença resulta em alienação mental.

    No caso específico do REsp n. 800.543/PE, relatado pelo Ministro Francisco Falcão e julgado em 16/3/2006, a Primeira Turma do STJ enfrentou a questão da isenção tributária em favor de uma portadora do Mal de Alzheimer. A decisão proferida nesse precedente é considerada emblemática por diversos aspectos.

    Primeiramente, o Tribunal reconheceu a legitimidade do pedido de isenção do imposto de renda, evidenciando a sensibilidade do Poder Judiciário para com a situação dos portadores de doenças graves, como o Alzheimer, que podem experimentar uma progressiva perda da capacidade mental. 

    A concessão da isenção neste caso não se deu com base na mera existência da doença, mas sim em razão da constatação da alienação mental, que é uma das condições previstas na legislação para a concessão desse benefício fiscal.

    Além disso, a decisão do STJ no REsp n. 800.543/PE contribuiu para a sedimentação de um entendimento jurisprudencial favorável aos portadores de Alzheimer, fornecendo um parâmetro interpretativo para futuros casos semelhantes. É evidente que a jurisprudência trazida neste breve texto é de suma importância para garantir a segurança jurídica e a igualdade de tratamento entre os contribuintes em situações análogas.

    Ao destacar a relevância desse precedente, o artigo enfatiza que a isenção do imposto de renda para portadores de Alzheimer em situação de alienação mental é um direito inegável, desde que devidamente comprovada a condição exigida pela lei, inclusive, reforça a ideia de que a aplicação da norma tributária deve levar em consideração não apenas a letra da lei, mas também a sua interpretação à luz dos princípios constitucionais, como a dignidade da pessoa humana e a igualdade perante a lei.

    Tomemos como exemplo um cenário no qual um portador de Alzheimer, em estágio inicial da doença, foi submetido à tributação do IRPF sem a devida concessão da isenção, mesmo após o diagnóstico da enfermidade. Nesse contexto, os representantes legais do contribuinte poderiam optar por ingressar com uma ação de repetição de indébito tributário, visando à restituição dos valores pagos a título de imposto de renda.

    Para embasar tal medida, seria imprescindível reunir robusta documentação médica, comprovando não apenas o diagnóstico de Alzheimer, mas também a evolução da patologia para o estágio de alienação mental. Laudos médicos detalhados, relatórios psicológicos e outros elementos probatórios seriam essenciais para respaldar a condição do paciente.

    Além disso, seria necessário apresentar elementos que evidenciem a tributação indevida pelo IRPF, incluindo cópias das declarações de imposto de renda, comprovantes de pagamento dos valores devidos e extratos bancários pertinentes.

    A fundamentação jurídica da ação de repetição de indébito tributário se assentaria, principalmente, na jurisprudência consolidada que reconhece o direito à isenção do IRPF para portadores de Alzheimer em situação de alienação mental.

    Ademais, a argumentação jurídica deveria abordar os prejuízos financeiros decorrentes da tributação indevida, demonstrando os impactos negativos sobre a renda disponível do contribuinte e seus familiares, bem como as despesas adicionais relacionadas aos cuidados específicos exigidos pela doença.

    Outro cenário importante, se por exemplo, uma pessoa já esteja comprovadamente doente e pagou o Imposto de Renda dos últimos cincos anos, seguramente, terá o direito de reaver os valores pagos indevidamente com base no julgado mencionado, cabendo ao interessado ingressar com ação judicial.

    Neste ponto, a propositura de uma ação de repetição de indébito tributário demandaria uma abordagem cuidadosa e embasada tanto nos aspectos médicos quanto jurídicos, visando assegurar o restabelecimento dos direitos do contribuinte de acordo com os preceitos legais e a interpretação jurisprudencial vigente.

    Conclusões Finais

    Diante da análise apresentada, é evidente o esforço do Poder Judiciário em lidar com questões sensíveis relacionadas à tributação de pessoas acometidas por doenças graves, em particular no contexto da isenção do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF). 

    O recente julgamento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no AgInt no REsp 2.082.632-DF, realça a relevância desta discussão, especialmente no que concerne aos portadores de Alzheimer, cuja enfermidade pode resultar em alienação mental.

    A jurisprudência consolidada, como evidenciada nos julgados paradigmáticos do REsp n. 1.814.919/DF e do REsp n. 1.116.620/BA, delimita o escopo da isenção do IRPF aos portadores de moléstias elencadas na legislação, reforçando a importância da taxatividade do rol de enfermidades. 

    No entanto, é necessário destacar que a Lei n. 7.713/1988 não faz menção específica ao Alzheimer, demandando uma interpretação ampliativa diante da possibilidade de a doença resultar em alienação mental.

    O precedente do STJ, materializado no REsp n. 800.543/PE, estabelece um marco relevante ao reconhecer o direito à isenção do imposto de renda para portadores de Alzheimer em situação de alienação mental. 

    É evidente que esta decisão emblemática não apenas demonstra a sensibilidade do Judiciário frente às situações de vulnerabilidade dos doentes graves, mas também contribui para a consolidação de um entendimento jurisprudencial favorável e para a garantia da segurança jurídica.

    Em suma, a isenção do IRPF para portadores de Alzheimer em estado de alienação mental é um direito respaldado pela interpretação evolutiva do ordenamento jurídico, alinhado aos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da igualdade perante a lei. É fundamental que essa proteção legal seja assegurada mediante a devida comprovação da condição exigida pela legislação, garantindo-se assim uma aplicação justa e equânime das normas tributárias.




A Justiça Gratuita e o Enquadramento no Imposto de Renda: Análise conforme decisão recente do STJ

  


 No âmbito do Direito Processual Civil, a questão da concessão da justiça gratuita e sua relação com o enquadramento na faixa de isenção do Imposto de Renda Pessoa Física têm sido temas de relevante discussão nos tribunais brasileiros. 

    Recentemente, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) proferiu decisão significativa sobre o assunto no julgamento do AgInt no AREsp 2.441.809-RS, sob a relatoria do Ministro Herman Benjamin, na Segunda Turma, em 8 de abril de 2024.

    O cerne da questão reside na argumentação do agravante, que buscava a dispensa do recolhimento do preparo em recurso especial, sustentando possuir rendimentos anuais situados na faixa de isenção do Imposto de Renda. Contudo, o STJ, em consonância com entendimentos anteriores, rejeitou tal critério como determinante para o deferimento do benefício da assistência judiciária gratuita.

    A decisão salienta um ponto crucial: a concessão da gratuidade judiciária não pode se basear exclusivamente no enquadramento na faixa de isenção do Imposto de Renda. Tal entendimento está alinhado com a legislação processual civil, que estabelece critérios objetivos para a concessão da justiça gratuita, não limitados à situação tributária do requerente.

    Além disso, é relevante notar que o deferimento da assistência judiciária gratuita após a interposição do recurso não tem efeito retroativo. Isso significa que, mesmo que o pedido seja deferido posteriormente, não exonera a parte do recolhimento do preparo quando da interposição do recurso. A jurisprudência é clara ao afirmar que tal deferimento não afasta a deserção do recurso, mantendo-se sua não admissibilidade.

    Nesse contexto, a decisão proferida pelo STJ reforça a importância de observar os critérios legais para a concessão da justiça gratuita, visando assegurar o acesso à Justiça àqueles que verdadeiramente necessitam, sem distinções baseadas unicamente em aspectos patrimoniais ou fiscais.

    Para ilustrar o impacto dessa decisão na prática jurídica, consideremos o seguinte exemplo:

    Suponhamos que uma pessoa física, João, decida interpor recurso especial em determinado processo civil. Ao analisar sua situação financeira, João verifica que seus rendimentos anuais estão dentro da faixa de isenção do Imposto de Renda Pessoa Física. 

    Com base nisso, solicita a concessão da assistência judiciária gratuita, alegando não possuir condições de arcar com as despesas processuais, incluindo o preparo do recurso especial. No entanto, o tribunal de origem nega o pedido, alegando insuficiente comprovação da hipossuficiência econômica de João.

    Diante disso, João interpõe agravo interno perante o tribunal superior, reiterando sua argumentação. Porém, o tribunal superior rejeita o argumento, destacando que o critério de enquadramento na faixa de isenção do Imposto de Renda não é suficiente para a concessão automática da justiça gratuita, devendo-se considerar outros elementos conforme critérios estabelecidos pela legislação processual civil.

    Assim, o exemplo evidencia como a decisão do STJ orienta os tribunais a adotarem uma abordagem mais ampla e criteriosa na análise dos pedidos de assistência judiciária gratuita, garantindo que o benefício seja destinado efetivamente àqueles que necessitam, independentemente do enquadramento tributário.

Considerações Finais

    A análise do julgado AgInt no AREsp 2.441.809-RS e do contexto que o envolve permite extrair considerações finais de relevância para a compreensão e aplicação do Direito Processual Civil, especialmente no que se refere à concessão da assistência judiciária gratuita.

    A decisão do STJ reforça a necessidade de uma interpretação ampla e contextualizada dos requisitos para a concessão da justiça gratuita. O enquadramento na faixa de isenção do Imposto de Renda, embora relevante, não deve ser considerado como único critério determinante. 

    A análise da hipossuficiência econômica deve abranger diversos elementos, garantindo que o benefício seja direcionado àqueles verdadeiramente necessitados.

    Além disso, a jurisprudência sedimentada pelo STJ esclarece os efeitos temporais da concessão da assistência judiciária gratuita. O deferimento do benefício após a interposição do recurso não retroage, mantendo-se a exigência do preparo processual para os atos já praticados. Essa compreensão é fundamental para evitar interpretações equivocadas e assegurar a segurança jurídica no processo.

    Por fim, a decisão do STJ demonstra o compromisso do Poder Judiciário com a efetivação do acesso à Justiça e a garantia dos direitos fundamentais. 

    Ao estabelecer critérios claros e objetivos para a concessão da justiça gratuita, a jurisprudência contribui para uma sociedade mais justa e igualitária, onde todos, independentemente de sua condição financeira, possam exercer plenamente sua cidadania.

09/09/2020

Prazo para cobrar depósitos do FGTS é de 30 anos se ação foi proposta até 13 de novembro de 2019


Ao aplicar a modulação dos efeitos do Tema 608 fixada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em repercussão geral, a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) estabeleceu que, relativamente aos contratos de trabalho em curso no momento do julgamento do STF, se o ajuizamento da ação para receber parcelas vencidas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) ocorreu até 13 de novembro de 2019, o trabalhador tem direito à prescrição trintenária.

Com esse entendimento, o colegiado negou recurso no qual o Estado do Amazonas pedia a aplicação da prescrição de cinco anos na ação ajuizada por uma servidora temporária para receber verbas trabalhistas, inclusive parcelas do FGTS.

O Tribunal de Justiça do Amazonas condenou o Estado a pagar à servidora todo o período trabalhado, entre abril de 2010 e março de 2017, considerando a prescrição de 30 anos. Para o Estado, o precedente do STF não se aplicaria às demandas que envolvem pessoa jurídica de direito público, para as quais o prazo prescricional seria de cinco anos, de acordo com o artigo 1º do Decreto 20.910/1932.

Segurança jurídica

A autora do voto que prevaleceu na Primeira Turma, ministra Regina Helena Costa, afirmou que a aplicação do precedente firmado no julgamento do ARE 709.212 (Tema 608 do STF) não se restringe aos litígios que envolvem pessoas jurídicas de direito privado, incidindo também em demandas que objetivam a cobrança do FGTS, independentemente da natureza jurídica da parte ré - conforme decisões dos ministros do STF e precedentes do próprio STJ.

Regina Helena Costa explicou que, no julgamento do STF, foi declarada a inconstitucionalidade das normas que previam prazo prescricional de 30 anos para ações relativas a valores não depositados no FGTS, mas houve modulação dos efeitos com o objetivo de resguardar a segurança jurídica.

Dessa forma, o STF estabeleceu o prazo de cinco anos para os casos em que o termo inicial da prescrição - ausência de depósito no FGTS - ocorreu após a data do julgamento, em 13 de novembro de 2014. Para as hipóteses com o prazo prescricional já em curso, deve ser aplicado o que ocorrer primeiro: 30 anos, contados do termo inicial; ou cinco anos, a partir da decisão.

A ministra ressaltou que, após o julgamento do STF, o Tribunal Superior do Trabalho alterou a redação da Súmula 362 e definiu que, nos casos em que o prazo prescricional já estava em curso no momento do julgamento da repercussão geral, para que seja possível aplicar a prescrição trintenária, é necessário que a ação seja ajuizada dentro de cinco anos, a contar de 13 de novembro de 2014.

Modulação de efeitos

Com base nas orientações do STF e do TST, a ministra assinalou que, na hipótese de contrato de trabalho em curso no momento do julgamento do STF, se o ajuizamento da ação objetivando o recebimento das parcelas do FGTS ocorreu até 13 de novembro de 2019, aplica-se a prescrição trintenária; caso seja proposta após essa data, aplica-se a prescrição quinquenal.

No caso em análise, a ministra verificou que - a partir da data de início do contrato de trabalho, em 23 de abril 2010 - o prazo para o ajuizamento da ação terminaria em 22 de abril de 2040 (30 anos contados do termo inicial do contrato), enquanto o fim do prazo de cinco anos, a contar do julgamento da repercussão geral, foi em 13 de novembro de 2019.

Assim sendo, in casu, proposta a ação dentro do prazo de cinco anos a contar do julgamento da repercussão, cabível a aplicação da prescrição trintenária para o recebimento dos valores do FGTS, concluiu.

REsp 1841538

Fonte: Superior Tribunal de Justiça

Arrematação e Dívidas Anteriores: O Que a Decisão do STJ no Tema 1.134 Significa para os Compradores de Imóveis em Leilão

     Imagine a situação: você se torna o arrematante de um imóvel em leilão judicial. O preço é justo, a localização é ótima, e tudo parece...

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