Direito Tributário • Atualizado em 04/10/2025 • Leitura: ~14–18 min
ISS em Serviços de Saúde (2025): incidência, base de cálculo, uniprofissionais, planos de saúde, retenção e como reaver o que foi pago a mais
1) Conceito, competência e lista de serviços (LC 116)
O ISS é de competência municipal e incide sobre a prestação de serviços constantes da lista anexa à LC 116/2003. Para a saúde, a lista contempla consultas, exames, terapias, procedimentos e atividades laboratoriais, entre outras.
- Alíquota varia, em regra, entre 2% e 5% (alíquota mínima nacional de 2%).
- Base receita do serviço, observadas as exclusões legais e jurisprudenciais.
- Lista taxativa (sentido amplo) Municípios não podem inventar novos serviços por analogia.
2) Incidência por segmento: médicos, clínicas, hospitais, laboratórios e cooperativas
2.1 Médicos
O ISS incide sobre médicos autônomos e sociedades médicas quando prestam serviços a terceiros. Não incide sobre remuneração de médico empregado (relação de emprego).
2.2 Clínicas e Centros de Diagnóstico
Em geral, tributadas sobre a receita bruta. Disputas comuns: exclusão de insumos e repasses a médicos; regime de uniprofissionais quando cabível.
2.3 Hospitais
Controvérsias na base: medicamentos, materiais, próteses/órteses e uso de equipamentos. A tendência é permitir exclusões quando há fornecimento comprovado e discriminação em documento fiscal.
2.4 Laboratórios
Atividades laboratoriais são serviços alcançados pelo ISS, ainda que envolvam insumos. Organização de processos e notas é essencial para discutir base.
2.5 Cooperativas médicas
Repasses aos cooperados não constituem integralmente receita própria para base do ISS. Diferencie remuneração da cooperativa × repasses.
3) Local do ISS e retenção pelo tomador
Regra geral: o ISS é devido ao município do estabelecimento do prestador, salvo exceções legais específicas (art. 3º). Saúde, em regra, segue a regra geral. Muitos Municípios preveem retenção na fonte para tomadores (hospitais, planos, clínicas). Verifique:
- Contrato e lei municipal sobre retenção;
- Cadastro do prestador no município tomador (CPOM ou equivalente);
- Responsabilidade solidária e multas por falta de retenção.
4) Sociedades uniprofissionais (ISS fixo): requisitos e riscos
Regime especial (inspirado no DL 406/1968) que permite ISS fixo por profissional, em vez de sobre a receita. Exigências típicas:
- Trabalho pessoal e direto dos profissionais habilitados;
- Responsabilidade pessoal pelos serviços;
- Ausência de elemento empresarial (estrutura complexa, escala industrial, mercantilização);
- Respeito às regras específicas municipais.
Risco de autuação: desenquadramento por “elemento empresarial” (plantões massificados, estrutura hospitalar, múltiplas unidades). Em desenquadramento, Municípios recomputam ISS sobre a receita com multas e juros.
5) Base de cálculo: o que pode ser excluído (e como provar)
Item | Exclusão da base? | Como demonstrar |
---|---|---|
Medicamentos | Sim, em tese (quando caracterizado fornecimento) | Discriminar em NFS-e; comprovar custo/entrada; correlação com o paciente e o ato. |
Materiais cirúrgicos/consumo | Sim, em tese | Nota destacada; contrato/ordem de serviço; lastro de compra/estoque. |
Próteses e órteses | Sim, em tese | Identificar o item, número de série/lote; laudo; vinculação ao procedimento. |
Repasses a médicos/cooperados | Depende (não constituem integralmente receita própria) | Contrato com profissionais; relatórios de repasse; NF dos terceiros. |
Uso de equipamentos de terceiros | Discutível (ativ.-meio) | Contrato de locação/cessão; segregar receitas; evitar mistura em uma única NFS-e. |
Chave de êxito: documento fiscal bem estruturado + lastro contábil. Sem discriminação, o Fisco tende a tributar tudo como “serviço”.
6) Planos de saúde e ISS
Não incide ISS sobre a mera intermediação financeira dos planos. O imposto alcança serviços próprios eventualmente prestados pela operadora (ex.: clínicas/centros próprios). A decisão pacificou a linha de defesa dos contribuintes e reorganizou fluxos de retenção.
7) Compliance fiscal: NFS-e, destaque de insumos e cadastros
- NFS-e: use campos adequados para serviço e itens fornecidos; evite descrição genérica.
- CPOM/CPFI (ou equivalentes): cadastre-se quando prestar em outros municípios para prevenir retenções e glosas.
- Contratos: preveja a responsabilidade por retenção, cadastro e documentos de suporte.
- Arquivamento: guarde notas, XMLs, laudos, ordens de serviço e relatórios por no mínimo 5 anos.
8) Restituição dos últimos 5 anos: passo a passo e modelo
- Levantamento: notas e guias dos últimos 60 meses; planilha por competência (base, alíquota, valor pago, retenções).
- Identificação de exclusões: separe medicamentos, materiais, próteses/órteses e repasses; cheque notas/contratos.
- Memorial jurídico: fundamentos legais e precedentes aplicáveis (LC 116; decisões dos Tribunais Superiores; lei municipal).
- Protocolo: pedido administrativo de restituição/compensação com anexos probatórios.
- Judicial (se indeferido): ação de repetição com prova documental robusta e planilhas auditáveis.